AMIGO, NÃO VALE A PENA

Após cuidar muito da minha vida, resolvi ir num blog de um amigo para ler a novidade. Havia duas postagens novas, colocadas em um espaço de tempo relativamente curto, já que ele costuma postar uma vez ao dia - até fica dias sem postar, então essas vieram em pouco tempo de intervalo, o que presumi que tivesse acontecido algo fora do comum.

Ao acessar o blog dele, para me inteirar, deparo-me com a postagem mais antiga. Nada das outras duas. Será que era coisa da minha imaginação? Minha mente me pregando uma peça? Eis que, na minha lista de leitura do blog, elas continuam lá. E há algumas linhas que puderam ser lidas antes das reticências, então percebi do que se tratava.

Lembro que me deixei enveredar pelo assunto da política quando tive meu blog anterior, e o quando me custou caro dar atenção às provocações de quem pensa diferente e até beira o radicalismo. Meu blog foi sendo envenenado - e por minha culpa, pois eu aceitava e reforçava o veneno, acreditando estar arrasando na resposta ao iníquo que deve rir da minha cara até hoje, não porque é o senhor fodão sabe tudo de política, mas porque é uma pessoa ruim, amarga e desprezível.

Hoje vejo que eu poderia ter evitado uma porção de desgaste, de sentimentos ruins, de nervosismo, de tensão, de aceleramento cardíaco. Teria poupado aquele blog que era tão bonito e me poupado também. Muitos desses maus momentos que absorvemos pela Internet acontecem por nossa própria capacidade de ficar alimentando o que não presta, de dar proporção demais ao que nos machuca, nos fere. Acreditamos ter o direito de dar uma resposta à altura, mas não paramos para pensar que não nos elevamos a altura nenhuma, pelo contrário: nos rebaixamos a um nível de estresse e degradação que só faz mal a nós mesmos, pois o outro está cagando a andando - e ainda se diverte.

Por isso, um conselho eu dou: venho colocando em prática o tal do viva e deixe viver. Venho evitando ao máximo dar força a coisas que me angustiam, me desequilibram. Quando vejo que o asunto é política, fico cheio de precauções e me policio ao máximo para não me expressar como acho que tenho direito, porque é exatamente isso o que o outro quer: que você se estresse, fique doido de raiva e coloque todos os seus pensamentos para fora, revele todas as suas vulnerabilidades. 

Este final de semana recebi um bolsonarista que nem me olhava na cara, pois eu vivo com o irmão dele há 20 anos. O mundo gira, muito acontece. E os tais queridos maravilhosos não quiseram recebê-lo como sempre fizeram desta vez, porque agora ele não tem mais carrão do ano, nem mulherão, nem ostenta luxos e mimos. Agora ele veio ficar conosco. 

Não. Ele não virou um anjinho de candura. Não. Não falamos dos tempos em que ele não aguentava nem olhar na minha cara. Não lembrei a ele que, na última vez em que esteve na cidade, seu irmão preparou um banquete à toa, pois ele simplesmente ficou com os maravilhosos e se esqueceu que viria. Eu preferi esquecer o passado e focar no hoje, no agora. 

Não. Não sou um ser amável nem evoluído, eu apenas sigo uma filosofia que é tratar o outro da forma como eu gostaria de ser tratado. O cara sai da puta que pariu e consegue chegar à minha casa. Não interessa se foi por amor ou pura falta de opção. Interessa que aqui eu dei meu acolhimento, minha hospitalidade, meu melhor. Não fiz por peninha dele. Fiz pelo meu companheiro que amo tanto e, principalmente, por mim. 

Não há radicalismo político maior que o acolhimento pessoal, carnal, na intimidade do seu lar. Sem lição de moral, sem esfregar nada na cara, sem desenterrar defuntos. Apenas o hoje. Apenas o agora. O mundo gira e eu quero acolher, amparar em vez de pisar e estressar.

Amigo blogueiro, não dê tanta importância a essa politicagem que vem para lhe provocar. Quando vier a tentação de que você tem o direito de responder e dizer umas verdades, só pense: "o que me importa é a minha esposa, são os meu filhos, é o meu lar, o que eu tenho de real, o que eu construí, se não está aqui, onde eu veja em carne e osso, não vale a pena me desgastar". 

Um grande abraço.