Quando era pequeno, adorava revistas em quadrinhos chamadas de gibis, compradas em bancas módicas de jornais e revistas - eram tantas opções, que eu ficava hipnotizado e pensava que quando fosse grande e tivesse meu próprio dinheiro iria comprar todas.
Na adolescência, vieram os livros de Agatha Christie, Paulo Coelho e alguns outros. Era gostoso ler os mistérios, as ações, os diálogos e os sentimentos dos personagens naquelas histórias. Lembro que me espantei com o narrador dizendo que tal homem velho tinha um câncer no cu - isso em "O sorriso do lagarto", de João Ubaldo Ribeiro, cuja história em si já nem me lembro mais, só que me marcaram alguns palavrões, por se tratar de um autor recomendado pela nossa literatura brasileira.
Li as aventuras de Tom Ripley, que muitos só conhecem em filmes, assim como um livro do 007 e um foguete, algo assim, pois me lembrei que me deu uma vontade imensa de passar para outro título. Ah, Ah!
O primeiro que comprei foi "Labirinto da Morte", de Philip K. Dick, em oferta no Carrefour, nos primórdios de sua existência na cidade. Marcou-me o feito, pois vim de um lar onde aprendemos que não se compra livros, que são perda de tempo, dinheiro jogado fora. Eu suprimia minha vontade em comprar um livro, então esse momento foi especial - eu me senti um transgressor.
Hoje ainda leio muito. Compro quase nada. Tenho muita coisa aqui. Já faz uns vinte dias ou mais que não leio nada, até estou em falta com alguns blogs de alguns amigos. Dos quadrinhos, afastei-me de vez. Perdi o gosto.
Mas esta não é uma postagem literária. É uma posstagem sobre motivação. Falta-me motivação, vontade, entusiasmo. E isso não é apenas sobre ler coisas, é sobre a vida em geral.
Arrumar certa graça na minha existência anda cada vez mais difícil. Eu sei que está difícil para todo mundo e tenho motivos de sobra para agradecer a Deus, todo santo dia, pelo meu corpo perfeito e meu estado de saúde atual. Deus sabe o quanto agradeço o que tenho. Cristo também.
E aí não posso nem me dar ao luxo de reclamar direito, sabendo que tem gente em piores condições que eu. Não reclamo, mas vivo. E o fato é: está tudo muito sem-graça. A vida é assim, então: a gente tendo dias e mais dias de tensão e estresse convivendo com nosssos familiares, por motivos bobos: o hábito de comprar coisas desnecessárias, de não conseguir pagar uma conta porque gastou naquilo que foi desnecessário, a marca ruim do pote de maionese, a comida que leva muito tempo para ficar pronta, o lanche que é degustado de qualquer jeito, deixando farelos e sujeiras onde não se deve, a tampa do vaso sanitário que, mais uma vez, está do jeito que não deveria... Coisas aparentemente pífias que, acumuladas, têm o poder até de acabar com um longo relacionamento, ou fazer o indivíduo se convencer de que não tem mais pelo que viver.
Uma coisa estranha toma conta. É complicado falar sobre isso, pois não se trata de um vazio, pois vazio não é. É, muitas vezes, o tempo preenchido de maneira que não me deixa nada contente ou, no mínimo, me traz uma sensação de satisfação morna, xoxa, branda, quase que apática, podendo-se chegar a algo realmente apático em muitos momentos.
"Fulano morreu."
E daí? Se bobear, começo a rir.
"Fulana está doente. É grave."
Ela que se trate. E eu com isso? E é bom ela ir atrás de se tratar logo, porque morre mesmo.
Encontro com algum amigo - o que costumava ser um passatempo alegre, interessante, envolvente, bebendo alguma coisa, jogando conversa fora, feliz da vida, cheio de expectativas sobre a vida, agora tornou-se um "hoje não", "deixa pra depois", prefiro falar com as pessoas pela internet, a encontrá-las pessoalmente.
As pessoas estão complicadas. E as coisas chegam a um ponto em que elas nem se acanham mais, não se constrangem nem lamentam por estarem complicando a minha vida. Parece que tornou-se um hábito. Como superei, elas interpretam que aceitei, então fazem de novo, ou arrumam outra complicação até pior em relação à anterior, e ficam esperando eu lidar com isso, sendo que nem seria problema meu. É o que escrevi há pouco, elas nem se contrangem, elas se acostumam e trazem mais. E aí, por mais que a gente ame essas pessoas, a vontade que se tem é de largar tudo, simplesmente abandonar tudo e sair com a roupa do corpo a esmo, completamente sem rumo, talvez em busca de uma montanha qualquer, suficientemente distante e imponente para se tornar inacessível aos que pensassem em vir me procurar. Sem celular, sem dinheiro - se bobear, sem roupas, sem cuecas, pois, não haveria ninguém para se importar mesmo. Talvez o beijo da aranha revelar-se-ia menos tóxico que a convivência com os chegados - a aranha que descobrir-se-ia por acaso transitando em cima da cabeça do meu pau agridoce, enquanto eu dormia sem sequer conseguir sonhar, pois há tempos não me lembro aonde vou após o embarque no cruzeiro de Morfeu - ou na barca do inferno, quem sabe?
Ao contrário de algumas pessoas, ainda não enlouqueci a ponto de tomar grandes atitudes. Não sei se é uma dádiva ou uma maldição ser dotado de uma capacidade de autoanálise constante e compreensão, pois isso me torna um ser pacato, frio e inoperante demais. Quando sinto que algo me incomoda muito e me deixa desgostoso, desgastado e quase adoentado, trato logo de arrrumar um meio de me distrair um pouco com o que quer que seja. Vale até sair para andar um pouco, mesmo sabendo que não resolve o problema, mas diminui-se um pouco a intensidade do veneno para aquele momento.
Muitas vezes é assim que faço com a Internet: utilizo-a para me entorpecer. Há quem se entorpece com pó (os mais burros), com álcool (ao menos, esses desfrutam de algo bom), com comida (a maneira mais gostosa de se matar, mas deve ser a mais lenta e não menos humilhante). Eu prefiro me entorpecer com a Internet. A Internet me ajuda a sorrir, a me distrair. Não. Ela não tem o poder de mudar meu mundo como em um passe de mágica. Ela me traz uma sensação mais suportável, às vezes até agradável. Sei que é ilusória, mas parece que tudo o que realmente importa na vida também é.
Como li dia desses em um blog vizinho e me lembrou do personagem Gaguinho (Looney Tunes): "That´s all, folks!".
Traduzindo: "E-então é isso, pe-pe-pessoal!".