quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Conto: O Tripulante Solitário

Ideogram

Dentro da nave espacial que se distanciava cada vez mais do planeta, César, o tripulante solitário recebe as seguintes instruções do condutor de inteligência artificial:

- Estamos atingindo a estratosfera. O senhor tem 1 minuto para apertar o botão de destruição total do planeta, que resultará no derramamento do gás tóxico na atmosfera, em níveis ultrafortes, o que fará  com que os seres vivos pulmonares, especialmente os humanos, entreguem-se ao sono profundo nas primeiras respiradas. 

- Não vou fazer isso.

- O extermínio será indolor. O passamento dar-se-á por indução repentina ao sono. 

- Não quero. 

- O senhor sabe que o planeta está fadado ao colapso. Ao optar não liberar o gás, apenas retardará a extinção das espécies e dará a elas um fim cruel.

- Já há muito sofrimento por causa dessa coisa climática. 

- Um bom motivo para que aperte o botão,  senhor. Prefere que os seres vivos sofram mais?

- Não. Prefiro proporcionar esse tempo a mais porque, quem sabe, alguma mente brilhante consiga reverter essa palhaçada toda. 

- O senhor tem sete segundos para decidir se vai apertar o botão. 

6

5

4

3

2

O botão foi pressionado. 

Após um tempo circundando toda a atmosfera planetária, o condutor de inteligência artificial informou:

- Iniciando rota para sua migração até o planeta similar mais próximo, senhor.

- Ok. Quanto tempo resta aos seres vivos, até a extinção ocorrer?

- O gás levará algumas horas para atingir a camada onde respiram os seres. As primeiras respiradas causarão vontade intensa de dormir, e assim farão. A estimativa do extermínio total dos seres vivos em todo o planeta é de 24 horas, senhor

A nave foi embora de vez do planeta. Tudo que César queria era conhecer logo o mundo novo onde habitaria.

- O ser humano é um projeto que não deu certo - ele disse a si, consolando-se pelo que tinha acabado de fazer.

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